sábado, 13 de maio de 2017

NOBRE POVO PORTUGUÊS – O PURO SANGUE LATINO!

                                                    
Portugal não cabe hoje no mini-rectângulo do seu berço nativo, nem mesmo no  mar imenso que o liga às ilhas-filhas. “Ganhou tudo o que havia para ganhar”. Desde os neurónios da  cabeça até à planta dos pés! Tudo fervilha e canta e pula, como se esta meia ‘jangada de pedra’ levantasse o voo triunfal de outras eras. Este 13 de Maio, bem  poderiam inscrevê-lo ao lado do Dia de Portugal, geminados os dois pela coroa de louros destinada aos heróis, alcandorados ao olimpo dos deuses.
Esperei até ao dobrar da noite para lançar-me, livre e triunfante, na asa branca desta página. E, de repente, acho inútil perder tempo e tinta perante o magnífico triplo salto que nos foi dado observar na pista transatlântica que é o nosso país. Venha a voz macia e quente do nosso Francisco José e cante,  “baixinho” não, mas  a plenos pulmões ao som da guitarra: “Esta noite ninguém dorme”. Na realidade, corpo e alma erguem-se hoje na trilogia do transcendente que define  a condição humana: a espiritualidade, o vigor atlético e o amor  “pelos dois”, por mil, por milhões. A partir do traço-equador de Portugal, viveu-se a mensagem intimista do espírito, através do líder sócio-religioso na Cova da Iria. Descendo à “capital do Império”, um  novo Tejo, vestido de rubro ardente, desaguava em delta aos pés do Marquês do Pombal. Era o tetra.  E mais longe, noutro meridiano europeu, Kiev erguia o coração exaltante de Portugal numa canção onde cabiam os corações do mundo inteiro.
                                               

Dito isto, o que mais me tocou nesta  euforia estonteante  foi o  afã incondicional, irresistível, roçando o irracional, com que nós e os outros – o vulgo – enquanto espectadores ou co-partilhantes, vivemos cada um destes acontecimentos. Tão díspares, na sua análise epistemológica, mas tão iguais e coincidentes nos efeitos e reacções! Seria preciso abordar um investigador neurologista ou sócio-psicanalista para desvendar o enigma. Desde logo, a começar pelas motivações: quer em Fátima, quer no Marquês ou na Luz, as motivações individuais enfeixam-se no mesmo tronco: a fé, a crença, o afecto. Se lá em cima eram a religião e o amor que empolgavam os ânimos, cá em baixo, ouvia-se escancaradamente: “O Benfica é a minha família, o amor da minha vida”, ou, repetindo o mais famoso de todos, Artur Semedo, “o Benfica é a minha religião”. De um lado, uma imagem tutelar e um líder galvanizador;  do outro, uma estátua inamovível tutelando o cobiçado troféu e um condutor de homens atléticos que os levou ao clímax, sósia de si mesmo, Vitória. Depois, é a multidão, o frenesim contagiante e sempre  o mesmo balbuciar de espasmo: ”Não há palavras”… A mesma equação estava  na ribalta de Kiev: o Troféu do Eurofestival, o palco do artista, os iluminados julgadores-votantes e milhares, milhões de corações aos saltos.
Salvaguardando, como disse, a escala de valores, a questão que se impõe é esta: “Qual dos fãs amará mais? E a qual dos três ‘santuários’ prestará  culto maior? E onde o sensímetro para quantificar a lealdade ou a energia dos ânimos?
                                          
É neste banco raso que me coloco, serenamente, para tentar penetrar nos labirintos do psiquismo humano, sem sectarismos de espécie alguma, procurando entender o individual intimista, conectado com o fragor das multidões. É que a multidão, como é sabido, não é apenas a soma parcelar das partes. É outra entidade e ultrapassa a singularidade empírica do indivíduo.
Mas, afinal, onde me fui eu meter?!... No entanto, é algo que me motiva e me arrasta: mergulhar na profundeza do nosso composto psicossomático. Fica para o silêncio do meu quarto. Porque hoje  é Festa, garbosamente tricolor: a brancura do Papa do Povo, o vermelho do Benfica e o negro-espiritual do Salvador Sobral. Venha cá o Fernando Pessoa  e emende,  não diga mais: “Portugal, hoje és nevoeiro”. Não, que é dia de cantar: “Levantai hoje de novo o esplendor de Portugal”!

13.Mai.17
Martins Júnior        

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