sábado, 27 de maio de 2017

CHUVA DE ESTRELAS CADENTES, BRILHANTES

Fim de semana solto e saudável. Que não gratuito e vazio. Muito ao contrário. De um  mergulho na profundidade das coisas  e um alçar de voo para uma liberdade plana e plena. Por isso, só me apetece desenhar um largo cruzeiro, de ponta a ponta, no mapa da ilha. E talvez não chegue para monitorizar a diversidade de iniciativas culturais que nestes dias povoam as terras e os corações, de norte a sul, do nascente ao poente deste dorso de basalto suspenso no oceano. Inscreverei hoje no corpo da ilha uma estrela, talvez um setestrelo e em cada vértice uma fagulha de talento a sobredourar momentos de lazer e frescura mental.
Com o epicentro no Funchal da Feira do Livro, onde a cultura se fez diversa e solidária – e a que “As Festas da Sé” emprestaram uma saudável descontracção – a criatividade correu como um rio e espalhou-se pela “Costa do Sol e do Sul”,  onde um vasto programa encheu a vila e até daria para preencher a ilha toda. Depois, o rio passou pela Calheta,  Ponta do Pargo e Porto Moniz, voltou à Ponta do Tristão, fez escala em Machico na “Semana da Saúde”, tomando logo o pulso da História no ensaio do Mercado Quinhentista. O rio  virou a norte e na estação marcada pela ruralidade emancipada,  Faial e São Roque, transformou-se em poesia, música, fraternidade.
Há quem prossiga caminhos desviantes na interpretação destes fenómenos, equiparando-os levianamente à velha demagogia do ‘panem et circenses’  (pão e jogos) com que a Roma imperial entretinha e domava a cidade. Mas não. Aqui há mais que “pão e jogos”. Neste rodopio envolvente e quem nele participa, um bem maior marca o ambiente. Prova disso, além dos títulos e autores que têm passado na Feira do Livro, destaco a presença do bispo Carlos de Menezes, membro do Conselho Pontifício da Cultura, para debater na “Casa das Mudas”, Calheta,  a tese do seu último livro sobre a momentosa questão ‘Fátima das aparições’: sim ou não ou nim. Em suma e muito sucintamente, um fim de semana produtivo, a toda a linha.
Chamo aqui um pressuposto muito antigo  que certos analistas reproduzem e cujo teor se resume a esta estranha constatação: “A evolução de um povo mede-se pela qualidade dos seus molhos”. Subtraindo o que, em termos estritamente culinários, pode ter de inverosímil, o aforismo pretende significar que a cultura, a sensibilidade, a educação constituem o barómetro civilizacional dos povos. E o cardápio cultural que nos foi oferecido neste fim de semana outro nome não terá senão a vaporização anímica deste corpo vivo que é a Madeira. Que somos nós. Enfim, a cereja em cima do bolo.
Um caloroso  Bem-Haja  a todos os seus promotores, os de cá e os de fora.

27.Mai.17
Martins Júnior


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