sexta-feira, 5 de agosto de 2016

HOJE, TODOS OS RIOS DO MUNDO DESAGUAM NO MAR DE AGOSTO…


           Hoje decidi navegar. À boleia da grande aeronave que faz o homem maior e mais alto,  percorro as 4649 milhas que separam Portugal do Brasil. Antes, ainda, atravesso  mais de 5 séculos e passo pela mansão dos deuses do Olimpo, encimado por Zeus. Aquela Grécia que foi a mãe  de todos os milhões de atletas que, de quatro em quatro anos, demandam os continentes para desfilar no majestoso cortejo da abertura dos Jogos Olímpicos de todos os tempos!
         Merece bem um poema, em homéricas estrofes, esta multidão imensa que caminha em empenhada peregrinação à Roma da saúde, à Meca da fraternidade, enfim, aos Himalaias  do corpo e do espírito, onde não há grandes nem pequenos, nem senhores nem  escravos, nem exploradores nem explorados. Cada um eleva-se,  resoluto e digno,   à custa do seu braço e do seu talento.
         Ali apaga-se o estrelato  milionário das grandes modalidade, ‘para dar lugar,  ex aequo, à miríades de gentes e línguas, seja qual for o seu ramo desportivo.  São todos  brilhantes  e alcançam o mesmo  estatuto os ases do futebol e os puxadores do remo, os pássaros voadores do salto em altura e as barbatanas humanas que mergulham nas águas, enfim, tudo é grande e nada é pequeno. Como definia uma das apresentadores  - ”Notem bem, isto é mais que desporto” – viu-se no grande mar do Maracanã “aquele abraço” que os donos disto tudo não deixam surgir na tablado dos próprios países: o mesmo sorriso da Coreia do Sul espelhado nos olhos cheios de uma jovem da Coreia do Norte. Senti eu uma onda de estremecimento irreprimível perante uma representação de refugiados, fazendo parte integrante  do certame dos Jogos Olímpicos! O desfile interminável bem poderia ostentar numa faixa gigante a palavra de ordem  transbordante por todo o recinto: “Deixai fora toda a exclusão. Aqui é o Reino da Inclusão Planetária”.
         Em todo o tempo que durar o monumento quadrienal de braços abertos sobre o mundo,  prefiro ficar com esta visão cósmica, deixando nas margens do Rio os conflitos e contradições que envolvem o planeta, a começar pelo próprio Brasil. Não é “um ingano de alma ledo e cego”, como o de Inês de Castro. Antes e sempre é o acalentar de um sonho que nem a Fortuna nem o “Cristo Redentor” podem realizar: só os homens e as mulheres, cada qual na sua pista ou no seu estádio, torna-lo-ão realidade, esse “sonho lindo, como em dia de Domingo”…
         Seja qual for sua pista ou  seu estádio!
         E aqui volto a este irregular rectângulo que é a Madeira, de onde saíram campeões de igual peso europeu , embora em campos tão opostos. Um, o melhor do mundo, no pujante e largo estádio de futebol; o outro no mini-rectângulo de uma mesa de ping-pong.. Ambos grandes, ambos vencedores,  em rectângulos tão diversos.
         Termino regressando ao invisível Maracanã  que mora dentro de nós. Podemos ser enormes no exíguo espaço do nosso  quotidiano, tal como podemos ser pequenos e disformes no espectacular teatro de outros mundos. Tudo depende de nós!   “O Homem é a medida de todas as coisas”, apraz-me repetir com o ateniense Protágoras. E completo com a sábia filosofia do helenista – e nosso -  “Ricardo Reis” :

Para ser grande, sê inteiro; nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes”

         “Aujourd’hui Je Suis Olympique”!

         05.Ago.16
         Martins Júnior

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