sexta-feira, 29 de abril de 2016

COMO NOS TEMPOS DE OUTRORA --- recordando 42 anos depois!



Entre as duas  iluminadas margens da corrente que atravessa  a ponte deste ano bissexto – o “25 de Abril” e o “1º de Maio” – outro não será o ritmo das águas senão o de nos deixarmos envolver na canção exaltante da vida reencontrada na alma do Povo : “O Povo que trabalha e faz o mundo novo”.
Volto, pois, à narrativa que Machico viveu na memória da Revolução dos Cravos, retomando, em termos mais concretos, o filão inspirador que, no próprio dia 25, aqui desenhei numa linguagem metafórica, talvez mesmo elíptica, tal o sonho redivivo que percorreu as terras de Tristão Vaz. Assim, prescindo das cerimónias protocolares – içar da bandeira, hinos nacional, regional e local, bem como outras peças adicionais superficialmente metidas no contexto da efeméride. Em Abril, fala o Povo Libertado, aquele mesmo que correu alvoroçado para prender ao solo as raízes do tronco em flor que os militares plantaram.
Sublime, pela perfeita conexão entre a coreografia e a música instrumental e coral, o espectáculo dos Serviços de Educação Artística e Multimédia do Funchal (“O que faz falta”) realizado no Forum Machico! As muitas dezenas de jovens artistas, que brilhantemente desfilaram em palco, jamais esquecerão, como eu, o génio criador e a militância de Zeca Afonso, na luta visionária por uma Nova Ordem Social. Machico agradece e pede mais: que voltem de novo.
Na mesma linha, mas noutro registo, o concerto de música orfeónica do Grupo Coral de Machico, na sede da respectiva Junta de Freguesia, agregou jovens, adultos e idosos, transportando-nos  para o alto nas asas   de Abril, em composições evocativas, tais como: “Vejam bem que não há só gaivotas em terra”… “E depois do Adeus” … “Acordai” e outras de idêntica pauta. Vozes da terra irmanadas com os cravos vermelhos!
Mas o climax da vivência endémica de Abril aconteceu ao ar livre, em plena “Praça da Liberdade”, assim se pode cognominar aquele recinto, onde, em 1976 cantou Zeca Afonso a “Grândola, Vila Morena”. As palavras emotivas dos que viveram a gloriosa data associaram-se ao entusiasmo de outros que, nascidos embora no pós-Abril, beberam da mesma fonte a água viva da Revolução e, na esteira dos mais velhos, aprenderam “o que custou a Liberdade”. Indescritível o espectáculo intergeracional com jovens e crianças, ostentando as raparigas nas suas saias brancas o  cravo vermelho bordado por mães e avós, as quais, há 42 anos, fizeram ecoar naquela praça comunitária  as mesmas danças e cantares, música e letra nascidas e crescidas em Machico! Ali viu-se,  sentiu-se o “25 de Abril” na mão, no rosto e na voz dos seus genuínos destinatários, o Povo Trabalhador. Foi a única expressão pública, aberta e sem muros que na Madeira se realizou. Em plena Liberdade, sem os medos e as ameaças dos avejões que povoaram e teimam instaurar o “24 de Abril”.
Mas – e esta é a nota final, destoante da beleza dos factos – a “nossa” comunicação social preferiu dormir no travesseiro da inércia ou nas almofadas dos palácios fechados, alguns deles, repletos de vazios discursos das maiorias oficiais. Não lhe interessa a pureza original da Revolução, mas tão-só os vernizes enfatuados que lhe servem de alicerces bolseiros das respectivas causas corporativas. É essa comunicação, dita social, formatada para fazer do "25 de Abril" mais um fóssil anémico, como aconteceu com o "10 de Junho" e o "1º de Dezembro".
Mas nem por isso o “25 de Abril” perdeu brilho. Bem ao contrário, ganhou autenticidade, pujança e nova Páscoa, como nos tempos de outrora que a imagem acima reproduz. Seja-me permitido terminar com a mensagem que ali mesmo entreguei: “Esta é uma data proclamatória, pelo triunfo da Liberdade, mas é sobretudo uma data convocatória para todos nós, decididamente os jovens. Aqueles que esquecem o “25 de Abril” ainda um dia vão chorar por ele. É preciso manter viva e saudável a Revolução dos Cravos. É o que faz falta”!

29.Abr.16

Martins Júnior  

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