sábado, 5 de março de 2016

FUTEBOL E … futebóis --- HUMANIZAR O DESPORTO!


Quem diria que hoje seria capaz de equipar-me de farda sabatina e luvas domingueiras para celebrar, não os futebóis, mas o Futebol?! Nem sequer para agitar bandeiras em furação nesta noite entre os dois vizinhos da segunda circular. Muito pelo contrário.
Por isso, distingo entre Futebol e futebóis. Destes, no plural minúsculo, já me ocupei o suficiente noutra altura. Considero um atentado às teclas do meu computador obrigá-las a gemer sob os pitões dos novos gladiadores do século XXI para enaltecer os malefícios marginais dos futebóis, a corrupção que escondem nas chuteiras-carteiras dos dirigentes, os canais arbitrários por onde circulam dinheiros sujos, os correios de droga onde acabam, como infelizes vítimas de um suicídio-a-prazo ,  grandes “heróis” dos estádios, enfim e sobretudo, o tráfego de pernas e braços e cabeças que, lá por serem de ouro milionário, não deixam de ser tráfego legalizado de seres humanos. “Vamos vender o fulano de tal, vamos comprar o beltrano, trocar o sicrano” – uma linguagem aviltante, inferior à dos mais baixos contrabandistas de feira!
Hoje levanto o estandarte do humanismo do Futebol-Desporto-Crescimento sustentado da personalidade humana. E faço-o convictamente contra os mercados do descarte em que caíram tantos jovens às mãos de empresas futebolísticas, gigantescas ventosas de sugar nervos e ossos, triturando-os em máquinas de fazer fortuna e, depois, atirando-os para o caixote dos resíduos mal cheirosos. Quem conhece os carburadores destas máquinas sabe de muitos e tantos, outrora levados aos ombros e depois arrumados nas prateleiras do mais desumano esquecimento.
Por isso rendo hoje a mais justa homenagem aos dirigentes do clube que teve a honra de contar no seu plantel com o grande atleta VICENTE LUCAS. Foi ele uma das glórias da formação do Restelo. Os “ecrãs” e as impressoras  não lhes deram a notoriedade que mereciam, tanto ao defesa central, como ao clube e seus dirigentes. A notícia é tão lacónica quanto eloquente: “Vicente Lucas, 80 anos,  moçambicano, irmão do famoso Matateu e, como este, ao serviço do FCB, vencedor da Taça de Portugal 59/60, internacional vinte vezes, ficando memorável a vitória contra o Brasil (1-0) em que foi mundialmente conhecido como “o homem que meteu Pelé no bolso”  -    pois, Vicente  foi vítima de gangrena e, por isso, teve que ser-lhe amputado o pé esquerdo.  A direcção do clube tem-lhe dedicado toda a atenção ao longo deste percurso crítico   e,  porque o único filho vivo está a centenas de quilómetros de Lisboa, já escolheu um lar confortável para o seu inesquecível defesa central”.
Vicente Lucas deu imensas alegrias aos Belenenses e ao país desportivo.. Aquele pé, agora amputado,  já foi um pé-de-ouro. Hoje, para muitos que enchem os estádios não passa de uma múmia e menos que isso. Mas houve alguém que resistiu ao mercado descartável de gente humana e bradou: “Vicente és nosso… estás vivo… o teu pé inexistente ainda é uma memória vitoriosa para os verdadeiros amantes do Futebol, em especial para a massa associativa da Cruz de Belém”!  
É esta a exaltação dos indestrutíveis valores humanos do Futebol e de todo o verdadeiro Desporto. É esta a voz que sobressai  do gesto da direcção e dos amigos do CFB. Mesmo sonegada da grande e falaciosa comunicação social, essa silenciosa mensagem, em vida do atleta, fala mais alto que a paranóia ululante  de muitos caldeirões dos futebóis.
Bem hajam os seus promotores!

05.Mar.16

Martins Júnior    

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