sábado, 21 de novembro de 2015

Sem interrogação e sem exclamação: NÓS --- OS JIHADISTAS



Não faço ideia de qual a resposta que cada um de vós, amigos e amigas, terá formulado à pergunta com que iniciei e concluí o último SENSO&CONSENSO:  Nós, os jihadistas?... Hoje, no meio da turbulência com que que os ajustes da bola fazem abarrotar as redes comunicacionais, proponho que se faça um “ponto de ordem” e se retire a incógnita então proposta e se lhe substitua pela expressão mais assertiva: Nós, os jihadistas.
         Comecemos pela evidência de constatar, ao vivo, a génese de outros tantos cataclismos sociais que a História registou ao longo dos séculos. Não se trata de  consultar a Wikipédia dos povos bárbaros que derrubaram a civilização greco-romana, ou estudar as Cruzadas, as lutas encarniçadas entre mãe e filho para implantar a independência do “Portuscale”, ou a Revolução Francesa,  nem mesmo o massacre nazi. Hoje coube-nos a sanção penal de ficarmos dentro dos horrores de outrora, sentir o dilúvio de fogo a afogar pessoas e bens, a calamidade em carne viva entrando pelas nossas portas adentro. Nós já não somos actores, mas autores das páginas sangrentas que os vindouros hão-de  relatar para a posteridade.
  Refiro-me aos cinco monstros que espalham em cima das nossas cabeças a destruição apocalíptica do planeta em que vivemos. Mencionei-os anteriormente e reproduzo-os em síntese: o dinheiro, a exclusão a guerra, a ambição “heróica” e a inércia comum. “Compra-se tudo” --- voltando à Velha Senhora” de Francis Durrematt. O dinheiro compra nações e consciências, compra graúdos e miúdos, compra cadeias e códigos penais, compra padres, bispos e papas, compra a opinião pública e a opinião  publicada. E fabrica os guetos, as armas, incita os heróis do nada e seca a força anímica de reagir.
 É este o chão fértil que tem envenenado as mentes e as lideranças e, por consequência, tem parido as fauces insaciáveis do terrorismo internacional. Não posso abusar do vosso capital disponível de tempo e espaço para levar-vos ao terreno e verificar esta indesmentível constatação. Mais descobriríamos que, na medida em que  se compra, em redobrada medida se paga. Não estará a geração presente a sofrer na pele as consequências do colonialismo estripador de gerações passadas? Absolutamente. Não significará tudo isto o furor dos explorados dos diamantes, dos petróleos, dos marfins, dos escravos com que “as ditosas pátrias” se locupletaram?  E  a barbárie da fé assassina em Allá não será o efeito de um inexistente Deus bárbaro que fez da Cruz a arma do Império, desde os longínquos continentes até às mais modestas aldeias?...


Se é verdade a inadiável intervenção cirúrgica da força defensiva e obstrutiva, também não é menos verdade a exigência de nos olharmos ao espelho da nossa consciência colectiva e vermos de que lado da barricada estamos nós, o nosso país, o nosso mundo. Não faremos nós parte indissociável dos monstros que devoram a civilização, a paz, a alegria de viver?
Exemplificando:
Quando permitimos  que legisladores fortes imponham normativos draconianos aos ombros dos mais fracos, não estaremos nós  a semear os gérmenes da guerra?... Quando chutam para a valeta do desemprego  milhares, milhões de braços famintos, sobretudo da juventude indefesa  … quando os julgadores condenam inocentes  e, a troco de dinheiro, deixam cá fora os criminosos … quando os milionários banqueiros despudoradamente diante de nós bebem o “sangue fresco” dos depositantes … quando um presidente mói no torniquete da sua teimosia a paciência de um país inteiro … quando se fabricam abrigos de gelo e abandono para quem se arrasta nas ruas e nos bairros de lata ---  que esperamos nós de volta senão a violência dos oprimidos contra a desumanidade dos opressores?!... E quando, em plena praça escolar, crianças, jovens e respectivas famílias  se digladiam no triste espectáculo do “bullying” impune… e quando, portas adentro, se adensa e fatalmente se consuma a mais selvática  violência doméstica --- em que diferem de nós as cenas, ainda que desproporcionais,  dos terroristas externos?...
Há uma excepção, imponente na sua humilde súplica, altíssima na sua coragem --- a de Francisco Papa, braços abertos nos Himalaias da História, bradando contra a “economia que mata”, interpretando o grito bíblico “O clamor do Meu Povo chegou aos Meus ouvidos, diz  o Senhor  do Universo”,  todo o dia apelando à inclusão, ao culto dos valores que libertam, à solução global para a angústia global. À sua volta, os jihadistas têm nome, são os cardinalistas e a arma, em vez da mortífera Kalashnikov, trazem-na sacrilegamente ao peito, uma cruz parricida e fratricida. A formar fileiras com a célula cardinalícia, vêm os bispos que se recusam a visitar o seu povo e os falsos guias espirituais que, sem pingo de escrúpulo, excluem da grande mesa festiva associações centenares da própria comunidade. Tudo isto é terrorismo requintado, jihadismo encoberto.    
Ficar mudo e quedo é colaboracionismo criminoso. Reagir pacificamente, até aonde se consiga  ---  é preciso, é urgente! Antes que o mal cresça...  
Assim como a pedra no meio do lago vai crescendo em ciclo ondulante até às margens, assim cada gesto nosso só se transcende em espiral de vitória, se ajudarmos a apagar o rasto dos jihadistas internos a que, por inércia ou oportunismo, ainda  pertençamos.

 21.Nov.15

Martins Júnior

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