sexta-feira, 19 de junho de 2015

MEIA VITÓRIA SILENCIOSA – FALTA A OUTRA MEIA


Deixando para trás algumas peças inacabadas desta minha folha dos dias intercalares, retomo a meada última, a propósito da tempestade com que o nosso governo “imberbe”  ia levianamente  varrendo a quietude da população da Ribeira Seca e da anónima maioria pensante de Machico. Ainda bem que as crianças do sítio não serão forçadas a abandonar as amplas salas de aulas que seus pais e avós conquistaram a pulso, desde há quatro décadas. Já não serão “emigrantes” na sua terra natal. Bastou o pequeno sopro advindo da meteorologia funchalense para que os pais e encarregados de educação se pusessem em campo e, assim, ficasse anulada a guia de marcha subscrita nos gabinetes executivos. Parabéns para as bases e para as cúpulas.
Sem menosprezo da problemática que a baixa natalidade implica na economia dos espaços escolares já construídos,  há um “enorme pormenor” a juntar aos argumentos que desaconselham as medidas preconizadas pelo governo. Refiro-me à matriz vocacional dos edifícios escolares. Uma escola não é um depósito indeterminado para onde se atiram quantas crianças ou jovens lá couberem. As paredes de uma escola são um corpo vivo: são cabeça, tronco e membros de uma comunidade. Lá se aprende a ler, contar e escrever. Mas muito mais do que isso. A escola tem uma refracção pedagógica e uma função sociológica inestimáveis, pois dela emana uma onda purificadora da atmosfera, construtora de mentalidades e laços intergeracionais, com saltitantes vozes infantis nos recreios, como pássaros a chilrear, cânticos e peças teatrais nos palcos, nas festas, enfim, tenras espigas de trigo louro emergindo da terra que habitam, para gáudio dos pais e primavera dos que vão tombando nos outonos da vida. Sempre que possível, não desenraízem as crianças do meio ecológico a que pertencem.
Um outro apêndice paira no ar e, ao que parece, com tendência para ficar: a alteração da nomenclatura da “Escola da Ribeira Seca”. Querem apagar o bilhete de identidade original para lhe dar o nome de um pai incógnito no sítio.  E pergunto-me o que sempre me interroguei nos idos anos da luta política (que não partidária): Que estranho instinto o destes governantes que os leva a fazer o que o eleitor não pediu e recusam-se a fazer o que ele exigiu? Quem é que pediu ao sr. governo para riscar à Escola da Ribeira Seca o nome da terra onde nasceu? Preguiçosa devoção de baptizar e rebaptizar! Ao menos, consultaram os munícipes ou seus legítimos procuradores para esse efeito? É o mínimo que fazem as autarquias para atribuir  nome  às  ruas, caminhos, becos e veredas, nos termos da lei. E se e quando a jurisdição das escolas passar para as Câmaras Municipais?... Novo baptismo, novas alcunhas? Mau gosto e mau senso!
Já aqui me debrucei sobre a paranóica generosidade do anterior governo em deixar aos defuntos secretários o testamento-epitáfio em escolas, centros de saúde, etc.. E também referi o foguetório de pouca dura que o fascismo mandou para o ar quando retirou a nomenclatura “Estádio dos Barreiros” para “Estádio Marcelo Caetano”. Actualmente seria interessante saber (e aqui vai o repto para algum subsecretário estagiário) quantas tabuletas andam por aí perdidas, embaciadas, caiadas, rebocadas,  em muros, entradas e saídas de hotéis, escolas, centros cívicos, supermercados, tavernas e até igrejas, com esta certidão de narrativa incompleta: ”Inaugurado por Sua Excelência o Senhor…” , nem é preciso dizê-lo? Um bom trabalho para o(s) historiador(es) do regime. Ridícula saloiice de parecer o DDT, o Dono Disto Tudo!  Estou a lembrar-me do satírico cultor dos versos alexandrinos, Guerra Junqueiro, na Velhice do Padre Eterno, referindo-se aos novos clérigos tonsurados com uma coroa a meio do couro cabeludo, dizia: “Já está assinalado com a marca industrial da casa: zero”.

Senhores, respeitem a pureza genesíaca da terra-mãe onde se levantam os laboratórios sociais e culturais ao serviço dos seus povos. E, mais uma vez: Façam o que o Povo exige e deixem-se de mexer naquilo que o Povo não vos pede.

19.Jun.2015

Martins Júnior

1 comentário:

  1. Muito bonito este texto. A Ribeira Seca-Machico tem sempre pronto e afinado o seu "microfone" .Está sempre ligado à rede dos problemas da localidade. Bem Haja, Padre José Martins Júnior, grande abraço

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