sexta-feira, 29 de maio de 2015

BANDEIRAS MONÁRQUICAS SOB AS INSÍGNIAS DO ESPÍRITO SANTO


Dizem os nutricionistas e recomendam os dietistas que se deve preferencialmente  consumir fruta da estação. E no extenso mercado global dos lavradores estendem-se nesta altura aos nossos olhos vastos cabazes de frutas, umas endémicas, outras exóticas e, e entre estas, muitas invasoras e infestantes. Desde  as laranjas furta-cores da política aos mamões amadurecidos, quase podres, do futebol, há muito por onde escolher.
Hoje deito a mão ao cesto do “Espírito Santo”. Ele vem de longe, já foi pintado, enfeitado, outras vezes proibido e ostracizado, sem contar com os remendos e contrafacções que lhe têm caído em cima. Refiro-me aos rituais popularizados, especialmente na Madeira, em “honra do Divino”, como afectuosamente e mais supersticiosamente lhe chamam os devotos. É um assunto sério este que os usos e costumes nos trazem embrulhados no manto das bandeiras da pombinha. Ater-me-ei às origens históricas e duvido que tenha espaço para  debruçar-me sobre os seus  desenvolvimentos até aos nossos dias. 
Não quero escandalizar ninguém, mas os factos são factos e contra eles falecem todos os argumentos e piedosas elucubrações. Por isso, a histórica devoção ao Espírito Santo tem de tudo, menos do que é espiritual. As insígnias vermelhas, a coroa real, o ceptro imperial, os “pagens” (assim ordenava a tradição do cortejo processional no Porto Santo quando lá estive como pároco há 50 anos) todo esse cerimonial possuía, em termos miniaturais, a magnificência e o poder da monarquia. Procurei as raízes e encontrei  nos quatro grossos volumes de Fortunato de Almeida --- “HISTÓRIA DA IGREJA EM POPRTUGAL (1930)  --- o início da devoção ao “Divino”:  Foi El-Rei D. Dinis que, a pedido da esposa Rainha Santa Isabel, mandou construir em Alenquer um templo dedicado ao Espírito Santo. Tal como o “milagre das rosas”, a devoção pegou e, a partir das cúpulas do reino, a Hierarquia regulamentou meticulosamente a tramitação das faustosas cerimónias públicas. Eis o relato do insuspeito historiador:
No Domingo de Páscoa entrava na convento aquele que fora nomeado para Imperador. De tarde saía da igreja do Espírito Santo o Imperador acompanhado de muitas festas, trombetas e grande multidão de povo com canas verdes nas mãos. E adiante iam dois pajens, um com a coroa e o outro com o estoque e tornando ao convento era novamente coroado. Acompanhando o Imperador seguiam duas donzelas honestas que dançavam no préstito e eram damas do Imperador e por isso se lhes dava dote para casamento. Voltava o Imperador para a igreja do Espírito Santo onde oferecia a coroa num altar e de novo a recebia das mãos de um sacerdote. Depois assentava-se num trono com o seu dossel e diante dele havia folias, bailes dos nobres e do povo. Todos os domingos se faziam estas festas atá ao anterior ao do Espírito Santo que se chamava dos fogaréus, porque como as festas se prolongavam pela noite dentro acendiam-se luzes no arraial”. (pág.556).
Fortunato de Almeida classifica de “extravagâncias” estas devoções, que se foram desenvolvendo ao gosto popular e , com abusos tais, que chegaram a ser interditas pela Igreja. Citando:
O Imperador passou a ser um menino para representar o bispo inocente que vestiam com as vestes e insígnias episcopais, governava o clero até ao dia seguinte, visitava as paróquias como se fosse prelado da diocese, deitava bênção, etc.. Era uma folia, de que o povo ria, e que afinal foi proibida por diversos concílios”  (pág.557).
No decurso dos séculos, a tradição obedeceu ao velho ditado “cada terra com seu uso e cada roca com seu fuso”, de tal forma que as autoridades eclesiásticas viram-se confrontadas com a fértil exuberância da imaginação popular, que misturava a devoção ao “Divino” com práticas marginais, senão mesmo contraditórias, reminiscência das antigas festas pagãs. Uma característica, no entanto, ficou sempre indelével: a configuração do poder imperial adaptada a cada região, sob o signo do Espírito Santo.
Na Madeira, outro tanto aconteceu. Os colonizadores da ilha, capitães donatários e sucessores, detentores do poder senhorial, foram os grandes pioneiros da devoção. É o caso de João Gonsalves Zargo que erigiu em Câmara de Lobos a primeira capela ao Divino Espírito Santo. Obedecendo aos mesmos cânones senhoriais, o fidalgo João Esmeraldo mandou construir a então sumptuosa igreja do Espírito Santo na Lombada da Ponta do Sol. Da minha parte, sou levado a crer que a  (afectivamente “minha” porque la estive dois anos consecutivos) capela do Espírito Santo, no Porto Santo, terá sido obra da velha tradição régia de Portugal colonizador.
         E como bem calculei eu no início destas notas, fastidiosas ou apreciáveis conforme os gostos, hoje não dá para concluir a  mensagem. Ficará para a próxima semana.
29.Maio.2015

Martins Júnior

quarta-feira, 27 de maio de 2015

MACHICO RESPIRA SAÚDE

É um deslumbramento sem  ocaso contemplar o maravilhoso mundo da biologia naquilo que possui de mais íntimo, escondido dos holofotes dos dinossauros com olheiras do “ homo erectus” do século XXI.  A beleza da filigrana produzida pelas anónimas obreiras dos casulos mereceu bem esse poético compêndio que Maurice Maeterlinck dedicou À “Vida das Abelhas”. Tanto mais emotivo e atraente quanto se sabe e vê que nos dias que passam o que conta é o grande plano, o efeito, mesmo sem nada feito, mas mensurável  a  olhómetro,  enfim,  o que é espectacular e retumbante, ainda que vazio, desde  que ensurdeça os ouvidos e cegue a vista ao  transeunte comum. Ele é nos futebóis, ele é nos partidos, ele é nas mordomias eclesiásticas pavoneando-se em plumas vermelhas nas praças e estádios.
         Por isso “eu gosto muito mais daquela feia”, perdoem-me, mas sinto a voz do Carlos do Carmo enaltecendo o que,  sem ser vistoso,  guarda a riqueza interior de quem a procura. Foi também nesta perspectiva que E.F.Schumaker  concebeu esse maravilhoso livro “Small is beautiful” (O que é pequeno é belo), um estudo de economia em que as pessoas também contam.
É nesta óptica que aprecio uma iniciativa que, desde há nove anos, a Junta de Freguesia de Machico vem realizando sob o signo de “Feira da Saúde”. Feira, porque é do Povo, pelo Povo e para o Povo. Não se ataviou para a grande ribalta, nem a nossa “TV” das Madalenas se dignou dar cavaco (e já lá vai no quarto dia) nem mesmo o solícito novo Secretário da Saúde se dignou aceder ao convite, nem pessoalmente nem por representação. Ainda bem, acho eu, porque a iniciativa, particularmente nestes dois anos de mandato,  já está habituada a abrir caminho sem muletas nem padrinho.
Mas a verdade é que Machico descobre nesta altura o ouro precioso de um  voluntariado profissionalmente conceituado, ao nível da saúde e sua profilaxia, quer na área do nutricionismo, da actividade física, nos cuidados primários, quer no rastreio presencial, na ginástica localizada, no culto da arte  da música e dança. Outro valor acrescentado manifesta-se na agregação das diversas instituições sediadas em Machico e são muitas  --- desde a infância das escolas até à “terceira idade” --- como pode ver-se no prospecto que aqui se dá por reproduzido. É uma cidade nova que se encontra e reinventa em cada ano, unindo corpos e almas.
Cumpre-me (e nisto acho que envolvo toda a população) felicitar os autarcas da JFM, na pessoa do seu devotado presidente Alberto Olim, bem como à coordenação da jovem e dinâmica dra. Ana Isabel Cunha, felicitação esta  que se transforma em grato reconhecimento pelo trabalho consciencioso realizado em prol da saúde desta cidade. É com iniciativas destas, sem a pesporrência foguetória tão colada a esta Região, que se faz crescer a cidadania e o vigor de todo um povo. Certamente que também  noutras localidades algo se esteja a fazer com a mesma humildade das abelhas anónimas obreiras do Bem Comum.
Parabéns!  Para cumprimentar-vos , não vejo maneira mais cordial e mais saudável senão repetir aquele provérbio antigo: “A primeira e melhor recompensa do dever cumprido é ter cumprido esse dever”.
É esta a vossa maior glória!

27.Maio.2015
Martins Júnior

segunda-feira, 25 de maio de 2015

“NÃO HÁ PALAVRAS”…

Uma certa radiografia das emoções

Será pura diversão o meu escrito de hoje, será uma despromoção do veículo mais precioso da condição humana, o verbo comunicador, será porventura uma crítica aos valores ou desvalores que comandam as nossas  mais primárias reacções. Cada qual optará pela interpretação com que melhor se identificar.
         Tocou-me ontem mais de perto a vulcânica explosão de festa, quer a  dos fãs no Funchal quer a  dos madeirenses presentes  no campo de Marvila, quando souberam que o velho  “Uniãozinho da bola” tinha recuperado o patamar soberano do futebol português, a ascensão à I Liga. É sempre digno de ver-se, do sofá,  e divertir-se com a torrente gestual dos trejeitos faciais e os esgares de garganta, quais petardos de júbilo desarvorado. E, em contraste, os mais sensíveis, alguns até às lágrimas, meneando a cabeça de comoção e balbuciando como um bebé-chorão: “Não há palavras!” E mais não disseram. O mesmo ritual pegava-se às gentes de Tondela, ora em gritaria, ora no mesmo silêncio intraduzível: “Não há palavras”. E no Benfica-Bi, muito mais.
         Lembrei-me, então, de tantos outros cenários em que o som esmorece e apenas reaparece no “Não há palavras”, por exemplo, no desgosto de um acidente mortal, numa decepção de amores frustrados, nos cemitérios mediterrânicos que afogam crianças e adultos foragidos à guerra e à fome, no sucesso de uma licenciatura ganha a pulso, enfim e em resumo, naquela mortandade que devorou vidas inocentes em fevereiro de 2010 --- “não há palavras” --- e na “salvação” de uma imagem de gesso que ficou intacta após a destruição da sua casa-capela, “não há palavras”, repetiam os crédulos em uníssono com os hierarcas cá do burgo.
            Que abismo semântico é este em que se balançam e, paradoxalmente, se repelem três indescritíveis fonemas?! Ocorre-me logo Eugénio de Andrade, naquele seu intemporal poema “Gastámos as palavras, meu amor”. Palavra-pau de toda a obra, palavra-senha  do seu contrário, palavra-farrapo de qualquer tapete puído. Nesta babilónia de interesses conflituantes em que somos obrigados a viver, as palavras  começam e acabam por enfastiar-nos, ludibriar-nos até à exaustão, ao ponto de não lhes darmos crédito no câmbio das relações humanas. Se para aquilo que nos é mais autêntico e mais íntimo “não há palavras”, então a conclusão não poderá ser outra: no normal quotidiano as palavras não servem para nada. Só para enganarmo-nos uns aos outros. E com isso nos cansarmos. Venha “Ricardo Reis”, o estóico pensador reincarnado em Fernando Pessoa, e explique o  tédio desconcertante a que nos leva esta fadiga da palavra batida, triturada, mil vezes ruminada, seja ela escrita ou falada.
         Por outro lado, não deixa de ser verdade a máxima atribuída ao sumo e eloquente Lacordaire: “Quando a dor humana é grande, grita. Mas quando é muito grande, a dor cala-se”. E o que se diz do sofrimento pode também dizer-se da alegria ou do sucesso.
         Admitamos, com a especulativa  dose de optimismo, que a linguagem é o dicionário de sinónimos do que sentimos e  somos. Então aqui é que poderá entrar um outro aforismo: Diz-me quais as palavras tuas e eu dir-te-ei quem és. Ou, noutro registo: Mostra-me quando é que achas e quando é que perdes as palavras e eu saber-te-ei de cor, os pensamentos, as emoções. Pela boca tanto respira  e vive como por ela se agarra e morre o peixe, já o sabemos.
Momento oportuno este breve instantâneo captado no rectângulo de futebol e que nos faz interpelar: o que é que te faz correr, o que te faz gritar ou ficar sem palavras?...  O que te dói ou te galvaniza?... O que te emociona?... Por quem vives ou por quem morres?... E é aqui que vais pôr a “cruzinha”  da tua opção: se nos verdadeiros valores e emoções, se o vazio efémero daquilo que não merece nem uma só pulsação do teu corpo!
Recorro ao pensador mais pragmático e mais profundo do nosso tempo: “Mal vai a tecnologia da informação quando dá mais importância às oscilações da bolsa que a um sem-abrigo que morre na valeta do caminho”.(Francisco, Papa).
         Pura diversão,  pessimismo de circunstância ou espelho de alma?
Fica na tua. “Não há palavras”-

25.Maio.2015
Martins Júnior


sábado, 23 de maio de 2015

MAIS QUE O FIM, A “MENSAGEM” DO ACÁCIO!


Subi hoje à freguesia de Santo António,  o chão-cidade do mesmo nome, o jardim das memórias suspensas nas cinzas voláteis: o palácio universal  que ali começa ou que ali acaba,  onde todos temos apartamento marcado. Fui lá como o aluno que reaprende a lição de um mestre que ali ficou --- o Acácio!
Devo confessar que não é aquela a minha visita privilegiada. Já pela “insustentável leveza” do ambiente, já pelo bafio que se nos cola aos nervos perante a hipocrisia do séquito enfatuado,  já  --- e sobretudo --- pelo epitáfio que um dia nos deixou  Fernando Pessoa: “Quando quiserem fazer a minha biografia é muito simples: a data do meu nascimento e a data da minha morte. Tudo o resto é meu!”
É este “meu”, é esse muito “seu”, que eu quero guardar do Acácio.
Que não ficou lá. Nem terá ficado (quem dera me enganasse) naqueles que lhe voltaram as costas com a última pazada de terra caída na tumba. O Acácio, de voz sonora, sem pregas esconsas, a voz sem medo, audível e transparente, espelho de todo o seu ser! O Acácio, senhor da sua verticalidade que não se quebrou no bastão dos poderosos, que não se acobardou nos bastidores do oportunismo, antes erguia a sua bandeira mesmo em tempos da servidão reinante, fosse em plenários fechados, fosse   em estádios abertos! Sou testemunha de que ele dava a voz a quem a não tinha, o seu microfone oferecia-o, como arma justa, aos combatentes pelas justas causas!  E a riqueza ímpar desse talento que do mais trivial relato tecia um fino bordado  de literatura, tão raro na banalidade dos dias que passam.  Poderias ter morrido velho, velhíssimo, rico, riquíssimo, gordo, gordíssimo.  Bastava rastejares, como tantos da tua profissão, mas não da tua fibra, por aqui fazem, nutrindo da sua incompetência o colchão em que sadicamente se deitam.
Mais meia-dúzia de luas… e quem se lembrará do Acácio, de olhos brilhantes e ideais cantantes?! Não importa. Foi essa a glória do Acácio, atirado para o vão de escada desta mansarda onde nós, os que ainda aqui vagueiam, passaremos insensíveis e broncos. Volto a Pessoa: “Em quantas mansardas e não mansardas do mundo/Não estão nesta hora génios-para-si- -mesmos sonhando?... Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente!...”
Da  singela “Mensagem” do Acácio fico guardando a luz no olhar e a sua palavra nos meus ouvidos de gente.
Acabo por gostar desse “prédio” onde tens apartamento ao lado da tua companheira de sempre. E gosto também porque nesse fundo sem fundo  ficou o meu pai. Ninguém dos que lá passam se lembra dele. Mas sei eu que ele permanece tão grande quanto  a profundeza que o guardou. A tua também!

23.Maio.2015

Martins Júnior

quinta-feira, 21 de maio de 2015

LUA DE MEL NO PARLAMENTO


“Como é diferente e como é  belo o amor em Portugal”… exclamava o octogenário  De Gonzaga,  na deliciosa “Ceia dos Cardeais” de Júlio Dantas.
Foi a definição que mais perfeita encontrei, ao seguir o “rendez-vous” (perdoem-me  o galicismo) que dá pelo nome estatutário de “Programa do Governo” no  Parlamento Regional. A mesa, de facto, era tão redonda e ininterrupta como a arquitectura circular concebida pelo conceituado Chorão Ramalho. Aquilo era tudo fresco e “acaloirado” como o fatinho novo com que se encadernavam os deputados: “Muito bem, sr. deputado, não posso estar mais de acordo consigo”, cantava o novel Secretário, a que repenicava o oposicionista: ”Muito bem, sr. Secretário, até que enfim está a confirmar o que o nosso partido dizia e o seu antecessor recusava”.
Depois, as juras de amor quadrienal, conjugadas com o verbo ir: “Nós vamos isto…e vamos aquilo…e vamos”, aqui entra o substantivo conjunto: “ Estamos a preparar um conjunto de regras…um conjunto de peças … um conjunto de ideias”… Tudo muito aparelhado e completo como o cardápio de presentes para  futuros noivos.  Uma excepção, apenas,  dissonante expediu da boca de uma “velha” senhora, antes autarca e agora estreante secretária, a um distinto deputado com provas dadas ao longo de
várias legislaturas: “Não venha com essa demagogia”. De uma graciosa boca feminina, soou a caserna.
Para lá do desfile dos perfumados colarinhos brancos,         indaguei-me do porquê de tanta “cantiga de amor” palaciano. Até que descobri: Aquela “ceia” de três dias não é bem de casamento, mas de divórcio.  Afinal, os vários nubentes ocupantes da mesa de honra  estavam ali porque tinham-se divorciado do primeiro amor que durara mais de 36 anos, record de longevidade superior ao velho solteirão Oliveira Salazar. Consumado, embora  com duvidoso sucesso, o divórcio litigioso, agora os bem sucedidos litigantes abraçam-se e juntam-se aos inimigos do “velho”, que de angustiado vigia passou a defunto hibernado.
Bem, para lua de mel de segundas núpcias, nada de mais doce e consolador!
Veremos mais tarde, no chão pedregoso das opções --- velhos interesses em odres novos --- quais ementas e benefícios chegarão às mãos do pagante destas facturas, o Povo ilhéu!
21.Maio,2015

Martins Júnior

terça-feira, 19 de maio de 2015

AFINAL, TERÁ BENTO XVI MAIS DE 700 ANOS? Duas histórias paralelas


Se a História se faz de encontros e desencontros, não podia deixar passar este dia 19 de Maio sem colocar num mesmo trono ou num mesmo altar duas figuras tão pares e gémeas nos papéis que desempenharam e, paradoxalmente, tão  desalinhadas e ímpares no tecido normal das instituições, mui particularmente da instituição a que presidiram. Separa-os a “módica” distância de 721 anos. Ambos alcançaram a suprema tiara papal e ambos beberam do mesmo cálice da mais vil traição, quedando-se, frágeis e destruídos, às mãos dos seus mais próximos “cortesãos”.
Esta é apenas mais uma página, tirada à moda antiga, a papel químico, dos arquivos secretos do Vaticano. Em dois breves parágrafos:
1.     Pedro Celestino era um beneditino monge rural, sumido numa caverna do Monte Morone. O trono papal estava vago. Em dois anos de conclave, com apenas 12 cardeais eleitores, não houve acordo na votação. Motivo: as tremendas e ambiciosas lutas entre as duas linhagens rivais da nobreza italiana --- os Orsini e os Colonna --- cujos familiares cardeais cobiçavam a cadeira de Pedro. Até que venceu o mais forte, Carlos I de Anjou, rei de Nápoles. Foram buscar à montanha o velho frade, de 84 anos de idade, o qual, visivelmente contrafeito, foi obrigado a ocupar o trono pontifício, sob o nome de Celestino V, em julho de 1294.  Entretanto, o astuto cardeal Benedicto Caetani, promotor da causa, mas subversivamente candidato ao lugar, organizou tal cerco persecutório ao velhote  que este, impotente e sem vocação para o cargo, decidiu fugir de novo para a antiga caverna de onde viera. Benedicto Caetani, porém,  e o seu bando político-cardinalício, temendo que o fossem buscar de novo, encarcerou-o, enquanto montava o maquiavélico plano de assassiná-lo. Cinco meses durou o  pontificado de Celestino V, entre  julho e dezembro do mesmo ano.  Oito dias depois, subia ao trono papal o mesmo mafioso cardeal Caetano, com o nome de Bonifácio VIII.
2.     Em 2005, é eleito em Roma, Bento XVI, um exemplar da intelectualidade quase monástica, mas frágil e sem intuição pragmática para o cargo Os seus mais próximos, os cardeais, serventuários da banca, da corrupção e da degenerescência moral, ao ver-se acossados pela vigilância  pontifícia, moveram-lhe ciladas e angústias tais que o homem, já com 86 anos, desistiu, desertou, vítima dos “lobos do Vaticano”.
Não são necessárias mais testemunhas. O enigma está decifrado: Bento XVI tem mais de 700 anos. Tem tantos séculos quantos o velho monge beneditino, mais tarde canonizado Pedro Celestino, cujo dia a Igreja Católica hoje lhe dedica. Ambos foram traídos pela corte que os rodeava. Podem colocar-se, lado a lado, no mesmo trono ou no mesmo altar.
Tem sido este, tracejado de cíclicas excepções , o enrolado sudário vermelho de uma hierarquia usurpadora do nome do  Nazareno. Não concebo como se sentem em paz consigo próprios, os generais da cúria, os embaixadores papais, os brasonados eclesiásticos, de feminis e douradas gargantilhas ao peito,  revestidos da púrpura do avarento do Evangelho, indiferente às chagas do pobre Lázaro, e de sobrepeliz rendilhada por costureiros da mais fina “lingerie” mundana. Tão fina quanto ridícula e contraproducente!
Um grito final: Não deixemos que prendam jamais nas teias da máfia romana o Grande Libertador, Francisco Papa, apostólico “varredor” das lixeiras em que trazem triturados os crentes que aspiram à Luz!

19.Maio.2015

Martins Júnior

domingo, 17 de maio de 2015

FUTEBOL, FÁTIMA E O REVOLTANTE FADO DE ANTEONTEM

Hoje serei lacónico e cirúrgico. Lacónico quanto a minha indignação, cirúrgico quanto o vírus mo exige. Até porque este fim de semana é suficientemente perdulário para fazer gastar toneladas de tinta e chuveiros de perdigotos aos microfones: ele é o futebol, ele é Fátima, ele é o fado.
         Na anatomia dos factos, escolho este último: o fado --- arranhado,  na voz do velho manequim-intérprete. E indigesto na letra irritante, porque passada, requentada, hipócrita e, por isso mesmo, insuportável.
         Refiro-me ao discurso do ainda Presidente da República dos jovens portugueses, anteontem na Fundação Champalimaud.  É agora, nas vésperas de deixar as puídas cadeiras de Belém, só agora se mexe e remexe para chamar os jovens emigrados a este país que ele --- o político com mais tempo  no poder --- ajudou a escaqueirar e desertificar. Quem será capaz de suportar, de consciência quieta, um sujeito a deitar lágrimas de crocodilo sobre o leite fétido que ele próprio engendrou ao apoiar uma coligação que descaradamente, como única solução,  indicou  aos jovens a porta de saída do seu país? Só uma plateia envernizada de hipocrisia aturou tamanha enormidade. Não houve ali uma voz que lhe bradasse a verdade dos factos: “Foste tu que disseste que não havia alternativa a esta governação”!
         Passando por cima das dramáticas estatísticas --- 53,1% dos jovens entre os 15-24 põem a hipótese de trabalhar no estrangeiro ---  o homem sem qualquer pejo em travestir-se de títere feirante  levanta o braço e chocalha o badalo da política. Venham os jovens para cá, interessem-se pela vida política. Atinge as raias  da insolência  acusá-los de ficarem alheios às politicas do país. É a sorte dele.
         Mas de que políticos e de quais políticas está ele a falar? Dos carreiristas das jotas, como Passos Coelho?... Dos que assaltaram o poder pela traição e pela mentira prometendo que nunca haviam de cortar pensões ou subsídios de natal? … Dos que fizeram do Estado um vulgar pátio de bullying político, caso Portas, com ameaças, escritas na via pública, de demissões “irrevogáveis” só para galgar, pelas traseiras do prédio, o lugar de vice-PM?... E aquele que deveria ser o responsável pelo prestígio da nação, “o garante pelo normal funcionamento das instituições” apára, aceita, diverte-se, com todo este charco de adolescentes garimpeiros, garotos impunes, sem escrúpulos de coisa nenhuma, perante um povo sofrido, órfão de líderes, exilado no próprio país… 
         É para esta enxovia de relacionamento cívico e político que chama os jovens emigrantes?... Sorte a dele! Se o tivesse dito mais cedo, ter-se-iam unido os jovens portugueses de hoje, como fizeram no Maio/68, como fizeram os estudantes de Coimbra ao então, caduco como o de agora, Américo Tomás.
         Tremendo baldão na face limpa dos jovens! Depois de lhes cortar as asas do sonho… depois de lhes tirar o pão da mesa obrigando-os, já adultos, diplomados e casados, a aceitar as migalhas dos pais, apertados pensionistas... depois de lhes partir as pernas e os desarmarem na vida … depois, é que os chamam à pátria! Assim fez Salazar com toda uma geração de inválidos, estropiados e muitos deles, regressados da guerra colonial, “numa caixa de pinho”. 
         Chega!  Poupe-nos!  Engula o vírus dos próprios perdigotos até ao fim do mandato! E ainda tem a iliteracia, o prosaico atrevimento  desplante de citar a delicadíssima Florbela Espanca: “Palavras são como as cantigas, leva-as o vento”. Envergonhe-se.
         E deixe-me curtir, sozinho, neste recanto do país, a minha lacónica indignação.   

17.Mai.2015

Martins Júnior

sexta-feira, 15 de maio de 2015

SE QUISERES, TU ÉS O MILAGRE VIVO!


Ampliando a casuística descrita no nosso último encontro, 13 de Maio, chegamos à conclusão de que nunca, como em tempos de crise, se propagam tanto os incêndios míticos na mente dos indivíduos e, com maior pendência, para os desdobramentos psíquicos centrados na aura das religiões. É ver a corrida às igrejas, aos santuários, ao sortilégio das velas. Há também quem prefira o recurso às magias, brancas ou negras, aos talismãs e polivalentes amuletos. E muitos, até, sem estrutura anímica para suportar tamanhas depressões, desaguam na baía dos suicidas, o seu nirvana consolador.
Tem toda a lógica   Karen Horney   , ao titular a sua obra mais impressiva, definindo-a como “A Personalidade neurótica do nosso tempo”. A mais cómoda fuga aos problemas que comprimem os indivíduos é aquela em que a grande multidão se refugia: a Fé.
E é uma descoberta de indizível sabor intelectual verificar as mais contraditórias derivas que um mesmo facto é capaz de produzir. Exemplifico: a menina-deusa que no Nepal viu o seu templo de pé no meio dos horrorosos escombros à sua volta, apostrofava: “Os deuses ofendidos pelos homens descarregaram sua ira no terramoto que matou quase 10.000 nepaleses”. Na Madeira, em 2010, a maior catástrofe do século XX deu-se precisamente quando a Imagem da Virgem Peregrina estava entre nós em generosa visita. Para uns, a Imagem teve todo o fragor de um maléfico avatar. Para uma velhinha dos recônditos rurais, foi outra a interpretação: “Ai, se não fosse Nossa Senhora a Madeira ia toda por esse mar abaixo”.
Assim se fala, assim se reza, assim se explora, assim se ilude… em nome da Fé.
         Não vou teorizar sobre a Fé. O livro do meu amigo Padre José Luís Rodrigues ( O que a Fé não deve ser, 2013) é um excelente manual de iniciação a esta problemática. Recomendo-o.  Aproveito também a oportunidade para exprimir o meu respeito por todas as formas que os crentes sinceros entendem demonstrar a sua Fé. Mesmo que não esteja de acordo com essas práxis. Mas confrange-me ver a fragilidade humana misturar fés e superstições, preces e negociações, fazendo do “seu” Deus um vulgar comerciante --- “dou-te se me deres” --- e de Maria uma feirante de arraial…
Na enredada patologia dos nossos tempos, parece mais fácil endossar a Deus ou aos deuses aquilo que ao próprio homem se deve exigir. Não chamem Deus nem  Sua Mãe para aquilo  que não se lhes deve atribuir. É  ofensa redobrada.
A Fé começa no esforço que cada um faz por alcançar os horizontes possíveis. Não tem o direito de confiar em Deus aquele que não confia em si mesmo. Ou fazer por isso. A nossa fraqueza e o nosso comodismo são a força de muitos bruxos e de muitas religiões. Desde o século V,  prescreve-nos o pioneiro e dinâmico  “Pai da Europa”, São Bento: ”Ora et Labora”. E ainda: “Faz tudo, como se tudo dependesse de ti.  E, só depois, espera tudo, como se tudo dependesse de Deus”.
         E de mais longe vem o repto do Mestre a Pedro quando o mandou caminhar sobre as ondas. Pedro iniciou a marcha, depois começou a duvidar e afundou-se. “Porque duvidaste, Pedro?”
Ao avistar as mais originais e multiformes expressões dos crentes nos santuários, apetece-me segredar a quem o queira aceitar:
Confiar em si mesmo, enfrentar os obstáculos, navegar captando a força motriz dos ventos adversos: eis, em minha opinião, a maior fé e a maior homenagem ao Todo Criador!

15.Maio.2015

Martins Júnior

quarta-feira, 13 de maio de 2015

PEREGRINOS CONFESSAM-SE E INTERROGAM-SE…


É um fenómeno apaixonante e, pelo tanto, avassalador aquele que se costuma designar por psicologia das multidões. Porque a multidão, já o sabemos, não é apenas a soma das partes envolventes.  É outra entidade emanescente,  outra alma e outro tom que sobrepujam a simples adição das  parcelas. Por isso que no vulcão multitudinal, o particular dilui-se no universal, amplia-se, transfigura-se e, não raras vezes, contracena com a própria identidade pessoal. Ao ponto de serem outras as nossas reacções, fruto imprevisto  da espiral emotiva que nos comanda. Digam os estádios de futebol, os megaconcertos, as manifestações colectivas e, dentro destas, as de carácter religioso.
No entanto,  a psicologia do “ego”, no seu sentido mais nobre, não deverá nunca  deixar-se alienar pelo instinto gregário de circunstância. É verdade que, como nos ensina Auguste Comte, difíceis são as análises quando “o observador coincide com o observado”. Mas é imperativo distinguir a génese e o percurso das motivações fasciculadas de cada árvore da floresta-multidão, sob pena de perdermos o pé no vasto oceano da peregrina  paisagem.
De certeza que já intuístes, desta introdução, que o que me move neste dia 13 de Maio,  é precisamente uma tentativa de  geometria analítica dessa gigantesca estrutura, chamada Peregrinação, que neste ano somou 200.000 almas no chão da Cova da Iria.
Vou cingir-me aos factos relatados na comunicação social, na expectativa de que quem me lê os confronte com o seu próprio pensamento:
1.     A maior parte dos peregrinos  esclarece que, em transporte-auto ou a pé, o seu móbil assenta em dois pólos: a fé e a esperança. Quase sempre por um bem adquirido ou um bem  iminente ou, em termos contabilísticos, em lucros vencidos e vincendos.
2.     F. diz que vem a Fátima porque assim prometeu a Nossa Senhora “se ela o trouxesse vivo e são para a metrópole,” sua terra natal. E eu fico a pensar naqueles onze amigos meus que uma mina anti-carro ceifou diante dos meus olhos,  esses e os milhares que lá ficaram sem ter uma mãe que lhes valesse…
3.     F., professor de Educação Física, mais desinibido  nos seus 29 anos,  confessa abertamente que fez a viagem a Fátima sozinho  em passo de corrida, com um carro de apoio: ”Foi um desafio, não uma promessa”
4.     F., “dono de grupo empresarial, ,com diamantes em Basileia, indiciado de branqueamento de capitais e associação criminosa, lesou o Estado em dezenas de milhões.  Foi detido pela PJ na passada quarta-feira enquanto fazia peregrinação a pé até Fátima”
5.     Cinco peregrinos, entre eles dois jovens, foram mortos por carro desgovernado quando seguiam a pé em peregrinação conjunta. Poderia valer-lhes a Senhora de Fátima?
6.     Nos confins do mundo, “El polideportivo que salvó una aldea” (El Mundo, 13/05/2015) . Foi em  Bhimphedi, Nepal, no passado  25 de Abril, quando os 5.000 habitantes do lugar foram à inauguração de um campo de futebol e de basquetebol e, a 200 metros, viram o tenebroso sismo desabar as suas casas. “Se a inauguração tivesse sido noutro dia, muitos teriam morrido”.  No segundo sismo, foram poupados de novo, porque assentaram as tendas no referido polidesportivo.
7.     Todos estamos lembrados da tragédia de duas freiras que se dirigiam a Fátima de automóvel, quando dois enormes pedregulhos que se soltaram de um camião que ia na frente, abalroaram o automóvel causando morte instantânea às duas ocupantes.

Poderia continuar este cortejo de acontecimentos fortuitos, trazendo à colação  casos paralelos de outros continentes, como o da Senhora da Aparecida  (a sua imagem de rosto negro  ficou exposta este ano na Cova da Iria) e em cujo santuário vi,  em 1972, no salão  das promessas, uma cruz enorme e tão arrepiante que não resisti à tentação de ler o que tinha lá escrito: “Reginaldo…carregou esta cruz às costas, de promessa até  à Aparecida do Norte se o Brasil ganhasse a copa do mundo”.
         Hoje, detenho-me por aqui. Sem comentários, que poderão ficar para outra oportunidade. Apenas, fico  amarrado  comigo mesmo a interpelar-me sobre a fé, tal como é servida aos crentes. Os episódios verídicos supra-enunciados  trazem-me à memória aquela famosa  apóstrofe  de Luís Vaz de Camões, “Lusíadas”, Canto V, estância 22:

“Vejam agora os sábios na escritura
Que segredos são estes da Natura”-

Que longo caminho a percorrer na descoberta da Verdade,  mais longo e doloroso que todas as caminhadas a todos os santuários de Fátima!

13.Maio.2015
Martins Júnior


segunda-feira, 11 de maio de 2015

QUANDO VIRÃO À LUZ AS ACTAS DO CONGRESSO DOS 500 ANOS DA DIOCESE?


Sei, como se estivesse a ver, que a sobremesa que hoje vos trago talvez não faça parte do menu do nosso melhor apetite. Porque preferimos encher os olhos de novos figurinos na “passerelle”, aguardando sempre o que vem a seguir. Mas o tema de hoje é de quem não se contenta com “ver a banda passar”.  Nem com o desfile de exóticos  manequins. Pelo contrário, trata-se de fixar a síntese essencial no meio do turbilhão mais ou menos folclórico das sucessivas modas que nos divertem.
Lembram-se do espectáculo em cena durante três anos de anúncios publicitários, enormes cartazes nas torres das igrejas, entrevistas de gente grada, tudo para entrar na ribalta um velho de longas barbas brancas denominado “Congresso dos 500 anos da Diocese do Funchal”, em 2014 ? E as míticas sumidades do intelecto e da catolicidade que viriam  transformar a ilha no areópago da capital mundial  da lusofonia cristã, levantando ao alto a Diocese-Mãe, prolifero seio  de todas as cristandades a descobrir  no aquém e além mar!  E a roda viva na cidade, entre a Reitoria da Universidade, a Igreja dos Jesuítas, o Teatro Municipal, a Sala de Congressos do casino,  a todo o vapor, animado até pela avalanche dos professores e professoras dispensados das aulas pelo governo regional!
E o que ficou, o que irá ficar de tanta azáfama de pôr a cidade à roda?... Para responder, recordo e recorto a mesma pergunta  feita pelo  Rev. Dr. Rui Osório, no “Jornal de Notícias” do Porto,  aquando da triunfalista  embaixada de 300 jovens portugueses  ao Congresso Internacional da Juventude no Brasil em 2013.   Nada, além do espectáculo!
Aqui, porém, os encenadores comprometeram-se a fixar em livro a épica narrativa, a qual, segundo o porta-voz secretário do bispo, apoiado no presidente das comemorações, Prof. Eduardo Franco, veria  a luz do dia no “período recorde de três meses”, isto é, em Dezembro de 2014. Fomos aguardando, de 2014 para 2015, do Natal para a Páscoa, da Páscoa, certamente até ao verão, enfim, já lá vão oito meses de expectativa.
Não está em causa a maior ou menor morosidade no cumprimento da  espectacular promessa, até porque o mesmo presidente tem em cima dos ombros a publicação do encomiástico Dicionário da Madeira. Pela minha parte, estou  ansioso pela publicação, mesmo que serôdia, das “Actas do Congresso”, até para confirmar (ou não) o que me foi dado observar durante as múltiplas sessões, algumas delas mais apropriadas para a Feira do Livro (que, coincidentemente, decorria nesta cidade)  e ver em letra irrevogável a conclusão a que cheguei: O Congresso não foi dos 500 anos, mas dos 400 ou mesmo 300 anos da Diocese, tal a preocupação de fixarem-se as dissertações nos séculos distantes da realidade mais próxima da história da Diocese,  com a premeditada e notória imposição de fugir às questões de um passado mais ou menos recente, como a  degradante reedição da  “Santa Aliança”  entre Governo e Igreja, antes e depois do “25 de Abril” na Madeira.
 Disse que nada me incomoda a morosidade da publicação. O que mais confrange  é constatar que uma hierarquia, supostamente representativa de uma “Igreja em Missão” e que se quer ponderada e séria, se deixe enrolar na vertigem dos fogos fátuos das organizações-empresas mundanas, auto-iludindo-se com os foguetes do arraial publicitário e das lantejoulas carnavalescas no cortejo da Santa Madre Igreja de Cristo! Quando se fizer o historial indesmentível da Diocese, quem sabe se tudo não se reduzirá a uma sofisticada feira de vaidades, bafios fiteiros para encobrir vazios malcheirosos ou, pelo menos, inúteis. E numa “Igreja em Missão”, a inutilidade é traição ao Cristo dinâmico, transformador da História.
Venham daí as “Actas do Congresso”! Mui gratos ficaremos.

11.Maio.2015

Martins Júnior

sábado, 9 de maio de 2015

O POVO NA CENTRALIDADE DO REGIONAL-CATOLICISMO

“Fita com olhar esfíngico, fatal
O Ocidente, futuro do passado.
E o rosto com que fita é Portugal.”

Coloco no alçado frontal deste dia a saudação de Fernando Pessoa à Europa. Faço dela  a evocação de  Jean Monet e de todos os pioneiros da construção europeia, fruto doloroso da II guerra mundial contra a barbárie do social-nacionalismo nazi  que dilacerou povos e nações. Um “Bem Haja” à Europa, neste dia que é seu. Que é nosso. Pessoa sonhou Portugal como o rosto da Europa, deixando em claro que são os homens que tornam sol ou “nevoeiro” o território que habitam. Cada um de nós é também Europa em construção. De cada um de nós depende que ela seja manhã de primavera ou noite de invernia. Preciso é que o Povo esteja na centralidade dos focos de decisão.
O tema de hoje é, em miniatura, modesto contributo para entender-se que deveriam ser os europeus a interferir e a mudar o norte aos magnatas sediados em Bruxelas. Basta que o Povo não se contente com migalhas, mas queira resistentemente o pão repartido por todos.


         Conforme o prometido, hoje é para concluir tudo quanto ficou dito sobre o papel que a população de Machico desempenhou na construção de Abril, enfrentando as hostes adversas na economia, na política, na cultura. Neste último item, situa-se a influência da Igreja Católica. Os factos mostram à evidência que foi essa instituição entre nós a maior força de bloqueio à prossecução dos ideais democráticos então em marcha.
         Distingo dois extractos da dita instituição: as bases e as cúpulas. Por bases entendo os crentes e também alguns sacerdotes conscientes do mandato evangélico. As cúpulas já ficaram identificadas sumariamente no escrito anterior.
         Quando “o pastor cheira às ovelhas que apascenta” (Francisco Papa) sente-lhe as carências, as extorsões de que são vítimas e abre-lhes os ferrolhos da prisão. Aconteceu assim em Machico. O Padre Manuel Severino de Andrade, pároco da extensa sede do concelho durante mais de 50 anos, apercebeu-se da chegada dos ventos libertadores, com palavras poucas e gestos muitos e sábios. Conhecedor da avalanche de reclamações que as populações nos traziam contra os abusos perpetrados pelos detentores do poder fascista,  ( presidentes, senhorios e congéneres) acedeu ao nosso pedido --- precisávamos de um espaço físico para atender os queixosos --- e franqueou-nos as instalações da JAC (Juventude Agrária Católica)  em pleno centro de Machico. Está ainda por escrever  a acção decisiva do CIP (Centro de Informação Popular) no apoio às justas reivindicações, recalcadas até então no subconsciente de pais, filhos e netos. Aguardamos ansiosamente a publicação da tese de curso que alguém já está a preparar. Era um rodopio constante naquela casa, onde um grupo de voluntários canalizava para quem de direito o objecto das denúncias e agravos dos usurpadores salazaristas locais. Não havia mãos a medir. E a alegria com que os jovens se desempenhavam das tarefas coadjuvantes! E a simpatia com que os via a população!
         Já se imagina que tamanha onda chegou às cúpulas, neste caso, o bispo e, daí, ao já  referido governador civil e militar, que  numa noite de triste memória mandou um pelotão inteiro e, à força das armas, rebentar com portas e janelas e saquear todo o  recheio que lá havia. Hoje quem por ali passa  vê, contíguo ao Solar do Ribeirinho, o prédio em ruínas, símbolo da degradação e do desmazelo de quem tem dirigido a diocese, desde essa altura.
         O prelado diocesano incarnando a epiderme religiosa de uma visceral militância política anti-25 de Abril assestou  a sua ira contra o povo mais  sacrificado e, ao mesmo tempo, mais lutador pela sua emancipação cívica, cultural e social, a Ribeira Seca, onde por missão tinha sido eu colocado após dois anos de capelania militar em Moçambique.  Para retirar-me a jurisdição paroquial acusou-me textualmente: ”Tu estás inscrito no Partido Comunista Português”. À minha estupefacção face a uma mentira tão gratuita e até ridícula,, levanta a voz na sala de audiências  e avança, decidido: “Até sei o teu número!” Aí, convenci-me que a “pide” da mitra sabia mais que o comité central… Sem comentários.
         A pertinácia do bispo provocou sérios protestos da população no portão do  Paço, tendo as Forças Armadas do brigadeiro Azeredo dado os primeiros tiros na Madeira pós-25 de Abril. Mais tarde, o mesmo bispo F. Santana (sendo lisboeta tornou-se logo regionalista, acérrimo bandeirante da autonomia pró-independência da Madeira) armou na igreja matriz de Machico o mais sacrílego tribunal popular de que há memória, instigando contra mim todo o templo que regurgitava de gente para a cerimónia dos Crismas. Eram três as exigências do bispo nessa hora: que eu não concelebrasse, que eu não fosse o padrinho de um crismando e, por fim, que eu me retirasse da igreja imediatamente, condição “sine qua non” para dar início à cerimónia. Mas a população de Machico não lhe obedeceu.  E não houve crismas. Três horas depois deste “combate” (que tem pormenores pavorosos, os quais ficarão para publicação mais amplas), o Prelado saíu da igreja para o Funchal, escoltado pela Polícia de choque. No dia seguinte aparece na imprensa local o decreto da minha suspensão “a divinis”.
         O antístite que lhe sucedeu, Teodoro Faria, madeirense de nascença e por tal fidelíssimo ao regional-catolicismo, levou mais alto a fasquia e, em 27 de  Fevereiro de 1985, aliou-se ao governo que ordenou  ao comandante da PSP, Homem Costa, a ocupação do templo da Ribeira Seca, durante 18 dias e 18 noites.. Maldição sobre maldição: foi este mesmo prelado que ao seu secretário particular, o famigerado padre Frederico, pederasta condenado a 17 anos de cadeia,  comparou-o, em nota pastoral no Jornal da Madeira, “a Jesus Cristo mártir, crucificado na cruz”. O governo não fez por menos.
         Por último, o actual pontífice diocesano, vindo do Algarve, atingiu o requinte de não deixar que a Imagem Peregrina de Fátima entrasse na igreja, nem sequer no adro, da Ribeira Seca, em maio de 2010, já vão cinco anos. Além disto, reentregou carta branca  ao governo regional para sentar-me no banco dos réus, em processo judicial que só ao foro religioso dizia respeito, ou seja, a suspensão de padre. Mas, de novo, perdeu a aliança regional-catolicista.
         Finalmente, é de pasmar o comportamento dos três últimos bispos  contra uma comunidade cristã, pois que há 41 anos todos se têm recusado a levar o sacramento do crisma à igreja da Ribeira Seca.
         Mas estamos vivos e felizes. Tal como o nacional-socialismo de Hitler foi derrotado em 1945, também o foi o provinciano regional-catolicismo, não pelas armas de guerra  mas pela força centrípeta das mentalidades. Porque, em síntese, o Povo colocou-se na centralidade dos acontecimentos. 
         Seria importante que, da mesma feita e em grande angular, os povos europeus e seus titulares interviessem assumidamente  nas decisões da macrocefalia  auteritária de Bruxelas.

9.Maio.2015

Martins Júnior

quinta-feira, 7 de maio de 2015

A IGREJA E O 25 DE ABRIL NA MADEIRA


      Concluo hoje, para amigos  e simpatizantes do “Senso&Consenso”, o feixe de nótulas breves sobre uma questão que, sendo de ontem, permanece viva hoje e sempre perdurará, desde que esteja em causa a construção do mundo em que queremos viver: --- a assunção participativa do cidadão ou, retomando o refrão inicial, o Povo na centralidade do universo das leis, decisões e lideranças que o cercam.
         Porque o “25/74” não se esgota em Abril, antes propaga-se no ar que respiramos, assentei a objectiva analítica no clássico tripé --- economia, política, cultura.  --- como já vimos anteriormente, tendo deixado para hoje a intervenção de um poderoso veículo cultural, a Igreja Católica, na construção e desconstrução do Abril em Machico, o que, de resto, veio a verificar-se em toda a ilha.
         Não é surpresa para ninguém a constatação do papel redutor da Igreja em todo e qualquer processo de renovação. Se exceptuarmos os dois extremos históricos --- os primitivos cristãos durante os primeiros 300 anos e os mais recentes activistas da Teologia da Libertação --- a Igreja-Instituição sempre se reforçou nos alicerces de uma matriz extática e estaticista. Quem se lhe opôs, ganhou o  anátema da excomunhão e a cabeça a prémio  sob a tortura da Inquisição, fosse esta assumida ou camuflada.
         Na Madeira, o caso foi “exemplar”. Vou descrevê-lo nos tópicos mais relevantes, deixando para outra altura a sua extensa e especiosa narrativa.
         Depois de dois anos de vacatura da diocese, os indigitados pelo Núncio e pelo Patriarca de Lisboa para a diocese do Funchal sentiram o peso das exigências pastorais de uma carta subscrita por 12 padres madeirenses e, como tal, declinaram o convite. Quem se apresentou prontamente foi o pároco de São Paulo, cais do Sodré,  Pe. Francisco Santana, assistente nacional do “Apostulatus Maris”. Tinha estreitas relações com o Estado Novo e, durante um estágio que fiz no “Stella Maris” de Lisboa, até me revelou, sem pedir segredo, que “tratava os ministros do regime por tu”,  No início dessa década  de 70, estava ele e estava eu  bem longe de imaginar que em Fevereiro de 74, vésperas do 25 de Abril, desembarcaria nesta ilha como Prelado da Diocese.
         O instinto prioritário do novo pastor consistiu em eliminar (e conseguiu) os padres que, desde os anos anteriores ao 25 de Abril, seguindo a linha evangelizadora cimentada no humanismo cultural e na dinâmica do Concílio Vaticano II, continuavam a mensagem libertadora de Paulo VI. A bomba que explodiu na residência comunitária de um grupo desses sacerdotes, na Rua do Pombal, veio completar a atmosfera opressiva que então vivia o clero subscritor da supra-citada carta.
         O  resto não é difícil adivinhar. O Paço Episcopal constituiu-se como o baluarte anti-25 de Abril, uma espécie de sucursal de São Bento, a residência de Salazar,  na Madeira. Dominado o clero, o bispo avança sem pudor na arena política. Três episódios, apenas:
1) Provoca a escandalosa  guerra campal no adro da Sé Catedral, opondo católicos contra católicos. 2) Percorre, uma a uma, as paróquias da Madeira e apresenta aos párocos um jovem, colaboracionista do regime salazarista, como o melhor candidato a presidente do governo regional. 3) Expulsa da direcção do Jornal da Madeira um distinto sacerdote, formado pela Universidade Gregoriana de Roma, o Pe. Dr. Abel Augusto da Silva, e põe no seu lugar o tal rapaz que fez do então jornal da diocese a rampa de lançamento para mais tarde implantar-se na Quinta Vigia durante mais de 38 anos, conseguindo, pelo meio, arrebatar o jornal que, desde aí deixou de ser presença da Igreja para tornar-se  porta-voz do PPD/PSD e seu governo.
         Após o que escrevi e revi, dou-me de contas da exigência inadiável que sobre nós, contemporâneos, impende de registar acontecimentos históricos, abafados nesta Região durante 40 anos pela aliança Governo-Igreja, os quais acontecimentos correm o risco de desaparecer ou, pior, se apaguem capciosamente pela mão-negra da mais vil deturpação, como se viu no Congresso dos 500 anos da Diocese.
         Afinal, vejo que não concluí o que me propus.. Fiquei-me pela introdução. Terminarei no próximo “dia ímpar” a prova de como o Povo de Machico esteve, inteiro e firme, na centralidade cultural de Abril/74, inclusive no que concerne à entidade Igreja Católica.

07. Maio. 2015
Martins Júnior 

terça-feira, 5 de maio de 2015

O POVO NA CENTRALIDADE CULTURAL DO 25 DE ABRIL


Escrever sobre a areia é o estilo corrente das redes sociais: vem a onda e leva a escrita por mais primorosa que se apresente. No pequeno visor da nossa mesa ou do nosso “tablet” preferimos a foto do dia, a notícia fresca, o comentário em cima da hora, enfim, o transitório dos dias, esperando avidamente  a onda da hora seguinte  para embalar-nos nos braços do efémero, do inédito, do fortuito. Mas não é isso o que mais me move, ao picar as teclas do mensageiro computador.
Vem esta introdução para justificar a sequência que me propus nos cinco dias que antecederam as comemorações do 25 de Abril: provar que nenhuma metamorfose (chame-se revolução, plebiscito, golpe de estado) conhecerá êxito se o Povo não estiver lá dentro, na sua génese, o mesmo que dizer, na centralidade da acção. Tomando por paradigma o sucedido em Machico, tentei abrir os canhenhos  das memórias e provar sucintamente que, na realidade, foi a população que ocupou a centralidade dos acontecimentos, sob o ponto de vista económico e sócio-político. (CFR. 19,23,29/4), deixando para hoje uma outra vertente, essa a mais determinativa, ou seja, a emancipação cultural.
Não se trata de puxar galões e fictícias comendas se disser que Machico marcou presença assinalável no panorama cultural madeirense. Remontando ao passado mais longínquo, a tradição romântica dos saraus e torneios artísticos desde o tempo do “Tristão das Damas”,  reergueu-se com o talento do poeta-filósofo Francisco Álvares de Nóbrega, (“Camões Pequeno”, Séc. XVIII) produzindo incontestável caudal de criadores literários e musicais, escritores, poetas, jornalistas até aos dias de hoje. 
As datas da Descoberta, 2 de Julho, eram festejadas, ao lado da efeméride de Álvares de Nóbrega, peças de teatro (“O Infante de Sagres”, de Jaime Cortesão) tudo numa afirmação patriótica das terras de Tristão Vaz. Nóbrega chamava a Machico “A Pátria do Autor”.  Já antes do 25 de Abril, enquanto as remotas escolas primárias funcionavam em velhos pardieiros, já nessa altura, numa zona marcada pela mais isolacionista ruralidade, nas instalações da igreja da  Ribeira Seca, voluntários dedicados ministravam aulas dos 1º, 2º e 3º ciclos, donde saíram futuros  universitários para as Faculdades de Direito, Medicina, Engenharia. Exposições várias e novos saraus movimentavam os lugares históricos de Machico, como documenta a foto inicial. As populações, mesmo na sua rudeza ancestral, estavam ansiosas por saber a evolução política do país, ficando memorável a participação de mais de uma centena de camponeses que vieram ao centro da vila participar numa sessão-comício levada a efeito pela Oposição, em 1969, no alpendre fechado de um restaurante local. A prisão de alguns machiquenses no forte de Elvas, por  ocasião da “Revolução do leite”, em 1936 e já antes, em 31, na  “Revolução da farinha” ou,  Revolta da Madeira contra o salazarismo, eram narrativas orais contadas a filhos e netos, caldeando mentalidades para a sementeira de Abril.
Mais expressamente, na vertente musical, ficaram marcadas até hoje as reivindicações populares contra os governantes do concelho que deixavam à sua sorte  as camadas rurais, sem estrada, sem água e sem luz, através de canções e bailados tradicionais das festas religiosas, de que damos esta pequena amostra:  “Santíssimo Sacramento/ Batemos à vossa porta/ Valei à nossa miséria/ Já que a Câmara não se importa”. Escusado será dizer que isto valeu a ira do presidente de então que chegou ao cúmulo de mandar dois elementos da PIDE fiscalizar o espectáculo no próprio local, o adro da igreja.
Logo, logo nos alvores de Abril, convidámos a actuar em Machico cantores de intervenção, Tino Flores, Vitorino e Janita Salomé, Fausto e, mais adiante, Sérgio Godinho,  Fanhais,  Júlio Pereira, os “Trovante”. Para sempre ficará escrito nos anais da cidade a actuação de Zeca Afonso, em 1976, (já aqui recordada) aquando da candidatura de Otelo à República, negra noite em que o brigadeiro Azeredo encheu a vila de “unimogs”  carregados de tropa, mandou apagar a iluminação pública, vendo-se o povo obrigado a romper às escuras por aqui e por acolá,  enquanto os militares desancavam em cima de quem agarravam à sua frente.
Basta, julgo eu, esta breve notícia que vem de longe, para compreender-se o porquê e o como Machico assimilou a Revolução dos Cravos e fez, ele mesmo, frutificá-la na sua terra.  “Natura non facit saltus”  E a história, também,  não se faz aos saltos, diz o velho princípio. Ela é um filão que sai de uma nascente, conhece  altos e baixos, geme ao sufoco de pesadas montanhas, mas depois reaparece pujante em cânticos de luta e de vitória.
No próximo “dia ímpar”, abordarei (para que os homens não esqueçam) a relação cultural da população com um incontornável veículo de mentalidades, a Igreja Católica, na construção (ou na destruição) da genuína alvorada de Abril em Machico. E não só. Na Madeira.

05.Maio.2015
Martins Júnior

domingo, 3 de maio de 2015

MÃE CÓSMICA

Todo o dia regressei à paisagem liquida, intra-uterina, onde naveguei durante nove meses, há 77 anos. Ofereço àquela que me trouxe e entrego a estas mães e a todas as madres de todos os tempos este úbere ramalhete de flores orvalhadas de gratidão e  saudade.

                      
                      

                        Tudo o que a vida tem
                        Tem dentro dela
                        O nome de Mãe


                        Mãe-água    e Mãe-terra
                        Mãe-céu      e Mãe-luz
                        Mãe-corpo  e Mãe-alma
                        Mãe-Deus   - Mãe-Mulher


                        Em tudo o que houve e houver
                        De aquém e de além
                        Tu és princípio e fim
                        Força criadora do Sim
                        Eterna essência de Mãe

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03.Maio.2015     
Martins Júnior